quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Metade

Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca.


Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.


Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que triste.

Que a mulher que eu amo seja prá sempre amada, mesmo que distante.


Porque metade de mim é partida mas a outra metade é saudade.

 

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor.

Apenas respeitadas, como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento.


Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo.

 

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.

Que essa tensão que me corroe por dentro seja um dia recompensada.

 

Porque metade de mim é o que penso mas a outra metade é um vulcão.

 

Que o medo da solidão se afaste, e que convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.


Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei...


Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.

E que o teu silêncio me fale cada vez mais.

 

Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.


Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba.

E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.

 

Porque metade de mim é a platéia e a outra metade, a canção.

 

E que minha loucura seja perdoada.

 

Porque metade de mim é amor e a outra metade... também!


 

( Oswaldo Montenegro )

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